Caixa Geral de Depósitos fecha semestre com prejuízo de 182 milhões. Ao todo, bancos portugueses já acumulam perdas de 817 milhões
Banca concedeu menos 11 mil milhões de crédito num ano
Banca concedeu menos 11 mil milhões de crédito num ano
A recessão teve um forte impacto na procura e na concessão de crédito ao longo do último ano, ao mesmo tempo que as dificuldades das famílias e das empresas portuguesas em pagarem as suas dívidas fez disparar o crédito malparado. Como resultado, o abrandamento económico provocou um aumento de imparidades e provisões feitas pelos bancos, penalizando as receitas.
Contas feitas, os cinco maiores bancos a operar em Portugal concederam menos 11,04 mil milhões de euros de crédito no espaço de um ano. Se no primeiro semestre do ano passado tinham injetado 212,2 mil milhões de euros na economia portuguesa, no final de junho, o crédito concedido ascendeu a 201,15 mil milhões. Ainda que tenham sido os bancos que mais financiamento concederam, o BCP e a Caixa Geral de Depósitos (CGD) surgem como as instituições financeiras com as maiores quebras percentuais em termos de concessão de crédito a clientes em Portugal, seguidos pelo Santander Totta, BES e BPI.
A retração económica, provocada pelas medidas de austeridade, somada à falta de investimento e ao desemprego ajudam a explicar a forte quebra na procura de crédito. Paralelamente, estes são os argumentos que ajudam a explicar o aumento do crédito malparado. Os montantes em dívida por parte das famílias e empresas para pagarem os financiamentos e obrigações que possuem, como as prestações da casa, carro e cartões de crédito, aumentaram nos últimos seis meses.
No caso dos três bancos privados cotados (BCP, BES e BPI), o crédito em risco cresceu 9% desde o início do ano, o equivalente a um aumento de 927 milhões de euros. Em dezembro passado, o malparado ascendia a 10,3 mil milhões de euros, enquanto no final de junho, este montante situava-se nos 11,21 mil milhões.
CGD com prejuízos
Os números do crédito concedido e malparado do sector constam nos resultados semestrais que têm sido apresentados nas últimas semanas. Ontem, foi a vez da CGD apresentar as suas contas, sinalizando um agravamento de prejuízos.
O banco estatal fechou os primeiros seis meses do ano com números negativos de 181,6 milhões de euros, montante que compara com os prejuízos de 12,7 milhões arrecadados em igual período do ano passado. Na base deste agravamento estiveram as imparidades para crédito, que apesar de terem atingido os 547 milhões de euros registaram uma descida de 25% face ao primeiro semestre do ano passado. A somar a isto, a CGD teve de suportar custos extraordinário de 39,8 milhões com a emissão de obrigações subordinadas de conversão contingente (CoCos).
Ao contrário da margem financeira, do produto bancário, do crédito a clientes e das comissões, os depósitos registaram uma evolução positiva de 2,2%, para os 65,8 mil milhões de euros. E, ainda que o crédito a empresas tenha recuado ligeiramente (0,4%), o banco estatal conseguiu aumentar a sua quota de mercado neste segmento, ascendendo a 17,4% no final de maio.
Igualmente a contribuir negativamente para os resultados da CGD esteve a atividade em Espanha. Atualmente em reestruturação, esta unidade arrecadou prejuízos de 90,4 milhões. Ainda assim, os depósitos no outro lado da fronteira cresceram 13% para os 337 milhões. Sem este contributo, a atividade internacional teria fechado o semestre com lucros de 35,8 milhões.
Banca perde 4,5 milhões
Com os números da CGD, fica fechado o ciclo de resultados semestrais dos cinco maiores bancos a operar em Portugal. O saldo final é tudo menos positivo, com os prejuízos a duplicarem. Contas feitas, a banca encerrou os primeiros seis meses com prejuízos de 817 milhões de euros, mais 113% do que em igual período do ano passado. São nada mais, nada menos do que 4,5 milhões de euros de perdas por dia.
Na análise aos vários indicadores dos resultados há um denominador comum: queda. Desde a margem financeira ao produto bancário, passando pelas comissões e crédito concedido, os cinco bancos viram os números recuar face a igual período do ano passado. A única exceção foram os depósitos, que cresceram 5%.
Sistema está sólido
O sistema bancário está sólido. Esta é a conclusão do Banco de Portugal (BdP) depois de ter ontem revelado os resultados da terceira ação de inspeção especial às carteiras de crédito dos oito maiores bancos nacionais com referência a 30 de abril.
O impacto da evolução desfavorável da atividade económica implicaria um ligeiro decréscimo do rácio ‘core tier I’ para 11,2%, que ficaria acima dos 10% exigidos, e a necessidade de reforço de imparidades de cerca de 1,1 mil milhões de euros. No entanto, o BdP conclui que os reforços feitos desde abril “cobriram a totalidade das necessidades de reforço de imparidade identificadas”.